Por João Bosco Cyrino (*)
O presidente da CPI da Pandemia no Senado, senador Omar Aziz (PSD/AM), deu voz de prisão ao ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. O senador acusou Dias de mentir à CPI durante seu depoimento ao longo desta quarta-feira, 07/07.
“O depoente vai ser recolhido pela Polícia do Senado. Ele está mentindo desde cedo e tem coisas que não dá para admitir”, afirmou Omar Aziz, pouco antes de encerrar a sessão. “Chame a Polícia do Senado. O senhor está detido pela presidência da CPI”, decretou o presidente.
O ex-diretor foi exonerado do cargo semana passada, após a acusação de que teria pedido propina de um dólar por dose para a aquisição da vacina Covaxin, pelo governo brasileiro. Roberto Dias negou qualquer irregularidade ou crime no processo de compra de vacinas, que ainda estava em processo de contratação.
Ao longo do depoimento, Aziz demonstrou frustração com o depoente com frases como “a paciência de todo mundo tem limite. Amigo, eu estou tentando te ajudar!” e “te botaram numa encrenca tão grande e você não está querendo falar para a CPI”.
A voz de prisão dada pelo presidente da CPI gerou revolta entre senadores da base governista e da oposição, como Fernando Bezerra (MDB/PE), líder do governo no Senado, e Otto Alencar (PSD/BA), que clamavam por calma.
Omar Aziz negou pedidos para revogar a prisão ou de votá-la entre os membros da comissão. Alegou estar sem paciência após apontar o que para ele seriam diversas inconsistências no depoimento de Roberto Dias. “Ele está mentindo desde de manhã. Dei chances para ele o tempo todo”, afirmou o senador do Amazonas.
A principal inconsistência apontada por Aziz é a versão dada por Roberto Dias da reunião em um restaurante onde teria supostamente pedido propina de um dólar por cada dose da vacina, no contrato da Covaxin, uma vacina da Índia sem autorização da Agência Nacional de Vigilância (ANV) para uso.
Segundo Dias, o encontro ocorrido em um shopping de Brasília, em 25 de fevereiro, com o representante da empresa Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti e o tenente-coronel de reserva, Marcelo Blanco, não foi agendado. Segundo o ex-diretor, ele estava lá apenas para “tomar um chope com amigos” e que Dominguetti e Blanco “chegaram de surpresa”.
Porém, de acordo com áudios divulgados pela CNN Brasil, Dominguetti falou com um contato seu da Davati, em 23 de fevereiro deste ano, uma terça-feira, quando alega que em dois dias iria encontrar Roberto Dias para negociar a compra de vacinas.
“A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática” afirma Dominguetti, no áudio.
Sobre o processo, o representante da Davati diz que “quem vai assinar [a compra] é o Dias mesmo. Caiu no colo Dias mesmo. A gente já se falou e quinta-feira a gente tem uma reunião pra finalizar com o Ministério” (sic).
Ainda é incerto como a voz de prisão dada por Aziz pode mudar os rumos da CPI e depoimentos futuros.
(*) Jornalista. Exclusivo para Amazonas no Congresso.
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado