O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM/AP), adiou para a próxima terça-feira, 30, a votação do projeto de lei que propõe combater notícias falsas disseminadas pelas redes sociais, o PL 2.630/2020. A decisão veio após apelos de senadores favoráveis ao projeto, que pediram mais tempo para que o Senado chegue a uma decisão mais “unida”. A proposta do projeto é instituir a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Leia aqui a íntegra do projeto.
O projeto estava na pauta da sessão de quinta-feira, 25, e chegou a ter oito requerimentos para adiamento negados pelo presidente do Senado. Durante a discussão, o líder do MDB no Senado, senador Eduardo Braga (AM), disse que a oposição de vários colegas se devia ao fato de terem pouco tempo para estudar o relatório. Braga propôs que a votação fosse transferida para permitir a adesão de mais senadores.
“Todos se manifestaram no sentido de que apoiam o combate às fake news, mas que gostariam de poder se debruçar um pouco mais sobre o relatório. Não vejo nenhum problema de o Senado adiar a votação definitiva do enfrentamento, para fazermos com sabedoria o reconhecimento do esforço do relator”, disse Braga, lembrando também que o projeto ainda passará pela Câmara dos Deputados e poderá até voltar para o Senado. Voltará se a Câmara fizer mudanças no texto.
O senador Plínio Valério (PSDB/AM), no Twitter, foi além contra a votação do projeto neste momento. “Voto contra o PL 2.630/20. Fere o acordo de só votar matéria da pandemia. Muito rápido, sem discussão”, diz ele, emendando que “o Brasil é o único país do mundo com lei que fere a democracia. O medo psicótico de ser vítima de Fake News e vontade de punir alguns setores não pode levar a punição de toda sociedade”, interpreta o senador.
O relator do PL 2.630/2020, senador Angelo Coronel (PSD/BA), entregou seu texto na quarta-feira, 24. No entanto, uma nova versão foi apresentada na tarde da quinta, durante a sessão.
Críticas à proposta
O texto é alvo de críticas de algumas entidades da sociedade civil ligadas aos direitos na internet, que enxergam nele ameaças à liberdade de expressão, à privacidade dos usuários e à inclusão digital.
O relator, Angelo Coronel, rebate as alegações e considera que essa oposição é resultado de “lobby” das empresas que operam as principais redes sociais. “Os gigantes digitais faltam com a verdade para manter o status quo. Só queremos a proteção da sociedade brasileira. Nossa legislação será dura no sentido de proteger o nosso povo”, afirmou o relator.
Debate
Nós não podemos utilizar o Senado como nosso instrumento de vingança particular. Essa legislação não vai ser para nós, vai ser para todos os brasileiros. Se não tomarmos os cuidados necessários, podemos estar ferindo princípios muito sensíveis”. (senador Randolfe Rodrigues – Rede/AP).
Para o líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE), outro problema em torno do PL 2.630/2020 seria a possibilidade de ele afastar as grandes empresas de tecnologia do Brasil. “A dúvida de como regular essas novas tecnologias é um debate que se coloca no mundo inteiro, e o cuidado é para que a regulação não termine por inibir a pesquisa e a inovação. Uma legislação malfeita poderá nos impedir de ingressar nos novos ciclos de desenvolvimento tecnológico”, defendeu.
O autor da proposta, senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE), observou que o projeto só se aplica a serviços virtuais com mais de dois milhões de usuários, o que protegeria as startups. Ele também reforçou que, na versão final, o projeto não trata de regulação de conteúdo. Em vez disso, o foco são medidas contra contas e perfis robotizados, impulsionamento em massa de mensagens e uso do anonimato para a prática de crimes contra a honra.
Linha tênue
Para os senadores que defendiam a aprovação imediata do projeto, um dos principais motivos é a proximidade das eleições municipais e o risco de interferência indevida de desinformação digital sobre o pleito. O senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), porém, observou que o Brasil já tem legislação com essa finalidade: a Lei 13.834, de 2019, que define o crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral.
Randolfe alertou os colegas para o risco de uma decisão motivada por interesses eleitorais, e lembrou que existe uma “linha tênue” entre o uso criminoso de fake news e a liberdade de expressão. “Nós não podemos utilizar o Senado como nosso instrumento de vingança particular. Essa legislação não vai ser para nós, vai ser para todos os brasileiros. Se não tomarmos os cuidados necessários, podemos estar ferindo princípios muito sensíveis”, afirmou Randolfe.
Cadastro
No relatório mais recente de Angelo Coronel, o projeto obriga as plataformas a cadastrarem todos os usuários, inclusive os antigos, com documento de identidade e número de celular ativo. Caso a operadora desabilite o número, a conta deverá ser suspensa. As redes também deverão impor limites ao número de contas vinculadas a um mesmo número, e ficam proibidas contas-robôs não identificadas como tal.
As plataformas terão que implementar ferramentas para rastrear a origem de mensagens encaminhadas, com a identificação dos usuários, a data e hora dos envios e o número total dos que receberam a mensagem. Usuários só poderão ser adicionados a grupos ou listas de transmissões de mensagens se derem autorização. As redes deverão limitar o número de envios de uma mesma mensagem e o número de membros dentro de um grupo. Todos os conteúdos pagos terão que ser identificados, inclusive com informações do responsável ou do anunciante.
Conteúdo eleitoral
A proposta também estabelece uma série de novos crimes, como calúnia eleitoral (associação de mais de três pessoas com o objetivo de caluniar ou injuriar alguém para fins de propaganda eleitoral) e manipulação de propaganda (divulgação de conteúdo manipulado para degradar ou ridicularizar candidatos). O candidato que participar de estrutura organizada para cometer esses crimes poderá ter seu registro ou diploma cassados.
Fonte: Agência Senado
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
1 comentário
A votação será amanhã. Esperamos que esse tempo tenha sido suficiente para que os senadores tenham estudado o PL 2630/2020 e pensem em quem os elegeu para representar. Que deixem seus interesses particulares de lado e comecem a trabalhar em favor da sociedade em sua totalidade.