Elvira Eliza França (*)
Hoje, 8 de março de 2023, fui visitar a exposição do primeiro amigo que tive em Manaus, há 38 anos: o pintor e escritor Otoni Moreira de Mesquita, que foi meu colega no departamento de Educação Artística da Universidade Federal do Amazonas.
A exposição é na Galeria de Artes do Centro de Artes da Universidade do Amazonas – CAUA, na esquina da av. Tapajós com a rua Monsenhor Coutinho, no Centro de Manaus. O horário é das 8:00 às 12:00 e das 13:00 às 16:30. O portão de entrada do CAUA fica perto da agência dos Correios da Praça do Congresso.
Tendo como tema “Primeiro caderno da infância e páginas da juventude”, a exposição apresenta o histórico da construção do talento desse grande artista da Amazônia, que começou sua vida como desenhista e pintor entre os quatro e cinco anos de idade. Graças aos cuidados da mãe, os desenhos da criança foram preservados, o que possibilita ao visitante da exposição observar, hoje, como era o olhar daquele menino que registrava detalhes das expressões das emoções nas faces que desenhava, e como escolhia as cores vivas para desenhos com perspectiva, movimento e muito dinamismo, que construíam histórias, acrescentando elementos da natureza.
É realmente um privilégio poder conversar com alguém que já atingiu a maturidade na vida artística, e que possibilita ao visitante da exposição ter contato com a criança que está na base da construção de seu trabalho. Nesse sentido, a exposição é um documento histórico precioso do período que antecedeu a formação acadêmica de Otoni na universidade no Rio de Janeiro, e mostra como ele, desde pequeno, mesmo sem formação em artes, já procurava inovar nos desenhos e pinturas que fazia. Além de rostos e corpos em movimento, ele já expressava, na década de 70, seu protesto sobre a destruição do meio ambiente e o que observava em relação ao processo de urbanização. Na exposição também constam ilustrações que ele produziu para jornais e boletins, e há painéis com fotos de várias fases de sua vida na fase registrada na exposição. Mas há uma grande riqueza nos relatos pessoais que ele dá acerca do processo de sua produção artística inicial, e ainda o visitante poderá ver os desenhos sob forma de vídeos que ele produziu.
A exposição do Otoni nos faz pensar sobre os desenhos que produzimos quando éramos crianças e que desapareceram no tempo, por falta de alguém que os preservasse para nós, à medida que crescíamos. Por isso, recomendo às mães, pais, professore e professoras, assim como crianças e adolescentes que visitem a exposição, porque ali poderão coletar pequenos segredos que poderão facilitar a formação de novos talentos artísticos para o futuro da nossa região. Otoni explica, com detalhamento, os períodos de sua produção artística, e mostra como um grande artista se forma com o apoio da família e da escola e sobrevive apesar da falta de apoio e até mesmo discriminação. Por isso, a exposição, além de proporcionar um deleite visual de formas e cores, é, também, uma verdadeira lição de educação para a arte para a nova geração. A exposição vai até dia 31 de março.Manaus, 8 de março de 2023.
(*) Elvira Eliza França é mestre em Educação pela Unicamp, pós-graduanda em Neurociência e Comportamento pela PUC (RS), especialista em Programação Neurolinguística pelo NLP Comprehensive dos EUA e graduada em Comunicação Social pela Universidade de Mogi das Cruzes (SP). É autora dos livros: “Crenças que promovem a saúde: mapas da intuição e da linguagem de curas não-convencionais em Manaus, Amazonas” editado pela Valer e Secretaria de Cultura e Turismo do Amazonas (2002); “Corporeidade, linguagem e consciência: escrita para a transformação interior” (1995), “Dimensões interiores da escrita: a voz da criança interior” (1993), “Do silêncio à palavra: uma proposta para o ensino da filosofia da educação” (1988) e “Filosofia da educacão: posse da palavra” (1984), publicados pela Editora Unijuí (RS).