Na praça Dom Pedro II, cemitério de ancestrais indígenas e local sagrado para os povos do Amazonas, anciões e lideranças gravaram falas para o evento de 19 de abril.
No Dia do Índio, segunda-feira, 19, a Prefeitura de Manaus vai realizar um evento histórico: a inauguração da Aldeia da Memória Indígena de Manaus para celebrar a presença e importância dos povos para a formação cultural e social da capital amazonense. É a primeira vez que a administração pública reconhece um espaço indígena e dá nome indígena para ele.
A produção do evento é da Fundação de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) e Conselho Municipal de Cultura (Concultura), que gravaram vídeos que serão exibidos na inauguração com as falas de anciãos, lideranças e grupos musicais indígenas em plena praça, agora memorial oficial dos antepassados dos índios Tarumã, Passé, Baniwa, Baré e Manaó.
O presidente do Concultura, o poeta, escritor e crítico literário Tenório Telles, explica que para facilitar esse processo de educação e acolhimento da sociedade, quanto à existência e importância do cemitério indígena, estão sendo desenvolvidos projetos com objetivo de aproximar a população de Manaus dessa história e memória. E tudo começa com o reconhecimento oficial do território sagrado onde será criado o Memorial Indígena de Manaus.
Falas indígenas
Um dos depoimentos gravados, que serão exibidos na cerimônia inaugural, é o do aposentado da etnia Kokama, Carmelindo Moraes (Mindu), 82 anos, que mora em Manaus desde 1984, oriundo do município de São Paulo de Olivença. Nascido em seringal, filho de indígenas aldeados, Mindu trocou a vida de seringueiro, pescador e coletor pela de pedreiro na construção civil em Manaus, onde constituiu família e gerou nove filhos e 14 netos.
Carmelindo disse que sente orgulho em saber que no subsolo da praça – onde ele gravou a fala para inauguração do memorial – estão sepultadas várias gerações de indígenas, seus ancestrais. “Esse memorial é muito importante para nossa gente, e vai servir nem tanto pra nós, mas para as novas gerações que vão ter o respeito de toda gente”, disse o ancião, ressaltando que “até agora só autoridades, grandes comerciantes são considerados os fundadores desta cidade”. Disse esperar ver essa versão mudar no futuro.
A dirigente da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Marcivana Saterê-Maué, que representa 47 povos, ressalta que a importância da criação desse Memorial e a atuação dos indígenas, como protagonistas, é uma grande conquista. “Nosso grande problema na cidade foi sempre a invisibilidade, a negação de que Manaus tem suas raízes indígenas, a versão que sua criação é a partir da presença dos europeus”, conta a líder, justificando que as falas dos indígenas, com destaque numa inauguração, é um marco histórico, dando base para uma nova narrativa do processo civilizatório da cidade a partir de agora.
Outro destaque do cerimonial de inauguração é a presença de uma mestre-de-cerimônia indígena, a apurinã Jéssica Batista (28 anos), bacharel em Direito pela UEA, nascida em Manaus e filha de pai da aldeia Talmirí, no município de Tapauá, e mãe da aldeia Jauarì, do município de Beruri. “Por isso, a manauara que foi indicada pela Copime para dar o tom de protagonismo em todo o processo de criação do Memorial”, explicou Marcivana.
Fonte: Assessoria de Imprensa do Concultura
Fotos: Oliveira Júnior/Manauscult
1 comentário
Muito bem, grande reconhecimento aos povos indígenas dessa região. Essa homenagem é muito justa e de grande contribuição para a cultura e preservação da memória dos povos da floresta e esta data – 19 de abril é propícia pra esse momento.