Lúcio Carril (*)
Vi três atos num movimento absurdo.
O primeiro, e mais chocante, é a revelação de até onde pode chegar o preconceito. Uma mãe se divorcia do amor materno para se tornar uma carrasca do filho, pelo simples fato da orientação sexual do menino. Simples no sentido de ser um direito de todos e todas a busca da sua satisfação sexual.
A mãe, num ato absurdo, deixa o preconceito dá a cor e o sabor dos seus sentimentos, num gesto de completa amargura e desvario existencial. Suplantar o amor pelo ódio criado pelos seus próprios limites é se deixar tornar um ser sem alma, mensageiro dos piores horrores da humanidade.
No outro ato, a direção da escola chama a polícia para reprimir um gesto dos seus estudantes adolescentes que deveria honrar o estabelecimento de ensino. O gestor ou a gestora ampliam o ato homofóbico da mãe para um alcance institucional.
O absurdo ganha espaço estrutural quando um gesto de solidariedade é tratado como caso de polícia. Os alunos, garotos e garotas adolescentes, se manifestam numa aula magistral de tolerância, civilidade e respeito, enquanto a escola resolve mergulhar na lama fétida do autoritarismo e da repressão, além de expor o despreparo da sua direção para o exercício da educação.
No último ato, uma juventude em ascensão abraça o amor, o respeito e a solidariedade. Um verdadeira aula de humanidade é dada a professores, diretores e aos pais, que devem se orgulhar de tão nobre ato.
Me emocionei com os meninos e as meninas, que pintaram um arco-íris, símbolo da pluralidade, para pedir respeito ao seu colega agredido na sua existência e intimidade.
Em três atos, um resiste como consciência de uma nova realidade e desenha um cenário de como dever ser o mundo.
(*) Sociólogo, especializado em Políticas Públicas e Gestão Social na instituição na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
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Imagem: site cljornal.com.br