A primeira vez que fui discursar para um público grande e qualificado foi início dos anos 80, quando eu tinha 14 ou 15 anos. Foi durante uma assembleia de professores no olímpico clube. Eu sabia que deveria sobrar pra mim a representação do Partido Comunista Brasileiro – PCB, que era ilegal e semi-clandestino.
Pois bem, passei uns dias treinando o discurso, escrevendo e reescrevendo, até decorar toda fala. E lá fui eu. As pernas tremiam, pois havia cerca de dois mil professores, mas o discurso saiu inteiro, com conteúdo e arrojado. Fui muito aplaudido. Depois peguei prática e tive o prazer de discursar no ato das diretas na praça do congresso, ao lado de Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Fábio Lucena, e tantos outros.
Conto esta história para dizer que não entendo a opção do Bolsonaro em passar vergonha em Davos. Ele poderia ter treinado, decorado um discurso que deveria ser encomendado a alguém que saiba escrever e conheça o Brasil e suas necessidades. Que caminho mais escroto esse do vexame frente a um fórum privilegiado no conhecimento da economia e dos problemas do mundo.