Depois que escrevi sobre a insanidade do governo Bolsonaro em dar licença de matar aos fazendeiros, uma enxurrada (ou seria esgoto?) de comentários apareceram na minha publicação. Todos na linha: “e se fosse tua propriedade?”, “tem que matar invasor, mesmo”, “tem que defender o produtor”, e outras sandices do gênero.
Eu sempre vou me assustar com o espírito assassino de gente que tem oportunidade de ser um bom ser humano e não trato essa corja de malfeitores como simples ignorantes da realidade; trata-se de gente que escolheu a maldade como prática de vida.
Mas vamos aos fatos.
No Brasil, segundo o Censo Agropecuário de 2006, 1% dos proprietários agrícolas possui 45% da área rural, o que coloca o país no 5° lugar em concentração de terras no mundo.
Em 2015, segundo dados do Incra e da Procuradoria Geral da Fazenda, 729 proprietários possuíam 4.057 imóveis rurais, que juntos têm uma dúvida de mais de 200 bilhões com União. Isto porque as grandes fazendas concentram cerca de 43% do crédito agrícola.
É óbvio que essas propriedades não foram criadas naturalmente com títulos de domínio desses fazendeiros. São terras griladas, saqueadas do patrimônio público para servirem de garantia em empréstimos milionários nos bancos públicos.
Quem produz alimentos são os agricultores familiares. Cerca de 70% do que comemos nas cidades são produzidos por este segmento social e econômico, apesar de ficar apenas com 7% do volume de dinheiro dos contratos de financiamento.
É esta a dura realidade do campo. É esta realidade que o misantropo quer perpetuar, aumentado o direito dos ruralistas caloteiros e grileiros para tirar a vida de quem quer terra para viver e produzir.
O sem-terra não invade propriedades rurais. Ele ocupa para retomar o que é público e dar função social. Quem sempre invadiu para especular foram os que detém, criminosamente, a posse da terra, hoje.
Ilustração: Tribunadapraia.blogspot.com