Há várias formas de ferir de morte uma pessoa ou um grupo social. Uma delas é tirar sua memória. Me refiro às 600 famílias que perderam suas casas. Ali não se foi apenas um local de moradia, mas uma história de vida.
Numa casa você acumula coisas e cada uma delas fala um pouco da sua vida. Cada coisa que está nela é, também, resultado de anos de trabalho e esforço individual e coletivo. De um pequeno pilão de pilar pimenta-do-reino a geladeira comprada em doze prestações, tudo tem uma história de vida e de sacrifício. O fogo não queimou somente casas, queimou a memória de toda uma vida.
E para muitos não há recomeço. O tempo já consumiu a vida e só restou o tempo da lembrança. Cada lembrança, uma lágrima, agora.
O bairro do educandos é antigo, do início da cidade de Manaus, e seus moradores são pessoas idosas que tem no seu local de moradia uma referência cultural. A idade já não deixa espaço para o recomeço e nem há mais força para reconstrução. O tempo é só de lembranças e a memória foi consumida em grandes labaredas.
A solidariedade do nosso povo ajuda muito a diminuir a dor e emociona a todos nós. Mais do que emociona, nos orgulha.
O tempo agora é do carinho e do apoio incondicional.