O jornalista Glenn Greenwald, coordenador do site jornalístico The Intercept Brasil, esteve nesta terça-feira, 25, na Comissão de Direitos Humanos e Minoria (CDH) da Câmara dos Deputados, atendendo a convite apresentado por quatro deputados. Foram mais de seis horas de reunião para ele esclarecer os diálogos entre o ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, com procuradores do Ministério Público Federal, especialmente Deltan Dallagnol. Diálogos que mostram ilegalidades na condução da operação Lava Jato. O jornalista começou a série de publicações dos diálogos no Intercept e depois passou a fazer as publicações em parceria com o jornal Folha de São Paulo e com o jornalista da Rádio BandNews, Reginaldo Azevedo.
Depois de cinco horas de audiência, após ter ouvido muitos deputados elogiar o trabalho do jornalista, o deputado Capitão Alberto Neto, que falou como líder do PRB, iniciou sua fala de dedo levantado, dizendo: “Senhor Glenn, primeiro quero que o senhor saiba que a maioria das opiniões que estão sendo citadas aqui não é a maioria da população brasileira”.
Quando o microfone foi dado para o jornalista, ele respondeu ao capitão com uma pergunta: “o deputado já fez uma pesquisa perguntando o que a população brasileira pensa das nossas reportagens?”. A gargalhada na comissão foi grande.
Imediatamente o deputado tentou interromper a fala do jornalista, mas Greenwald não permitiu a interrupção dizendo: “me desculpa, eu tô falando deputado. Obrigado” e foi logo se dirigindo para responder para outro deputado.
Alberto Neto falou por cerca de cinco minutos, conforme regulamento da audiência. Rebateu falas do jornalista e disse que Greenwald desconhece o processo legal brasileiro, por ter expressado surpresa no fato de um ministro de primeira instância, Sergio Moro, influenciar tanto. “É uma fantasia sua”. O deputado defendeu que a decisão do juiz, condenação do ex-presidente Lula, foi repetida na segunda instância e em “todas as instância até o Supremo Tribunal Federal (STF)”. A afirmação do deputado é equivocada. Lula foi condenado apenas pelo juiz de primeira instância da 4ª Vara do Tribunal Federal e, na segunda instância, pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre. O mérito da sentença não foi julgada em nenhum outro tribunal. Mas essa afirmação não sensibilizou o jornalista. Ele acabou de dizer ao deputado que “estava falando” e partiu para resposta a outro parlamentar.
Veja aqui a fala do deputado e aqui a fala do jornalista.
O jornalista apresentou muitos detalhes sobre os diálogos. Ele disse que Moro era chefe da Lava Jato. “Como um juiz estava colaborando, não às vezes, mas o tempo todo, durante cinco anos, com um dos lados que estava julgando? Em qualquer país democrático ele teria punição, perderia o cargo e seria proibido de exercer o cargo para sempre. Ultrapassou o tempo todo o código de ética. Sempre que ele mandou fazer algo, todos cumpriram. Não conheço ninguém mais subserviente que Deltan Dallagnol. O juiz que diz que você é culpado estava o tempo todo ajudando a construir as acusações que ele estava julgando. Ele era o chefe da Lava Jato”.
José Ricardo
O deputado José Ricardo (PT) também participou da audiência. Nem ele nem Alberto Neto é membro da CDH. Nenhum outro deputado do Amazonas participou da audiência. Antes de fazer uma única pergunta, Zé Ricardo fez uma explanação de um pouco do que vem sendo divulgado pelo jornalista, que, para ele, deixa claro que Moro não tem condições de continuar ministro.
Ele relatou: “como um juiz aconselha e orienta a acusação, cobra agilidade do Ministério Público, refere-se a pessoas deletadas como inimigos, sugere que apenas 30% sejam investigadas, fornece fontes a membros do Ministério Público Federal, sugere a substituição de procuradora em determinada audiência demonstrando preocupação com desempenho da acusação, antecipa decisão a uma das partes, desdenha da defesa. Isso é inaceitável para quem vai julgar. Mostra total parcialidade. A lava jato usou o Judiciário para fins políticos. Procuradores tramaram em segredo para impedir a entrevista de Lula antes da eleição para impedir a eleição de Haddad (Fernando)”. O petista perguntou ao jornalista o que ele espera que aconteça com Moro e os procuradores. Greenwald respondeu que cabe às autoridades brasileiras tomar as providências.
Veja a fala de Zé Ricardo aqui.
Fotos: Capturadas do site da TV Câmara
2 comentários
[…] Câmara, quando o jornalista Glenn Greenwald, do site jornalístico Intercept Brasil, Alberto Neto acusou o jornalista de não desconhecer o processo legal brasileiro. E o que o jornalista mostra no seu trabalho é […]
Erramos. O texto deveria estar assim: “Em recente audiência na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, quando o jornalista Glenn Greenwald, do site jornalístico Intercept Brasil, respondeu perguntas de deputados sobre as publicações sobre os diálogos de Sergio Moro com procuradores da operação Lava Jato, Alberto Neto acusou o jornalista de desconhecer o processo legal brasileiro. E o que o jornalista mostra no seu trabalho é justamente a falta de respeito ao “processo legal brasileiro” do então juiz Sérgio Moro no julgamento do ex-presidente Lula.”