Por Felipe Wanderley (*), da Redação
Encolhimento da esquerda e fortalecimento das chamadas novas direitas, mais conservadoras nos costumes, liberais do ponto de vista econômica e politicamente mais radicais. Este é um dos aspectos do retrato da representação política amazônica na Câmara Federal, que toma posse neste 1º de fevereiro no Congresso Nacional, diante de um governo que se diz comprometido com o desenvolvimento socioeconômico sustentável na Amazônia. O perfil da “bancada amazônica” foi traçado na edição 24 do Afluente, lançado nesta segunda-feira, 30, pelo podcast de jornalismo independente, que trata de questões amazônicas.
Na edição do quinzenal intitulada “Bancada sem Norte”, o jornalista Bruno Tadeu Moraes, paraense de Castanhal radicado em Manaus, demonstra aspectos tradicionais e novas tendências na Região Norte. Dentre eles, o índice de renovação acima da média nacional: com 63%, contra 39% no resto do Brasil. No Amazonas, a renovação ficou em 50%; amplo apoio aos governos estaduais e uma maior fragmentação partidária e a histórica baixa representatividade da esquerda, que ficou ainda menor, a exemplo do PT, que possui apenas dois deputados federais Airlton Faleiro e Dilvanda Faro, ambos do Pará. O deputado José Ricardo, entrevistado pelo podcast, não foi reeleito.
Leia a conversa do Amazonas no Congresso com o jornalista Bruno Tadeu Moraes, que produz o Afluente.
AMC: O Afluente é um dos primeiros podcasts de jornalismo independente que aborda temas amazônicos. Como surgiu o Afluente?
Bruno Tadeu: O Afluente surgiu em 2021, mas era algo que vinha sendo pensando não exatamente como podcast, até eu chegar a conclusão que o formato seria de podcast, que é um meio que eu já estava familiarizado e gostava bastante na época. A ideia surgiu da insatisfação com a nossa mídia tradicional, em que a gente não vê um trabalho mais aprofundado de investigação e reflexão sobre as nossas condições enquanto sociedade no Amazonas. Essa ampliação pro Norte vem no sentido de unir perspectivas dos estados. Se trata de uma nova perspectiva regional, que embora seja muito desafiadora, porque a gente não pode estar presente em todos os contos, mas a gente vai tentando. Todos os estados em algum momento são mencionados.
AMC: O episódio “Bancada sem Norte” faz justamente um raio-x das bancadas amazônicas desta que vai assumir e da última legislatura. Qual a sua leitura desse recorte?
Bruno Tadeu: Esse episódio é oportuno porque evidencia que não necessariamente a bancada do Norte é uma bancada amazônica. A gente vê deputados com interesses que são distantes daquilo que aponta a comunidade científica, os povos tradicionais, a população com a marca tradicional da região. O grande interesse da grande maioria da bancada é o interesse comercial, do lucro predatório, que facilita a grilagem, aumenta o desmatamento e as queimadas, incentiva modelos de negócios como a agropecuária, que vão de encontro à perspectiva da floresta em pé. Por outro lado, como o próximo episódio vai revelar, já dando um spoiler, a gente tem baixíssimo incentivos às cadeias produtivas sustentáveis, que são um perfil viável de economia, mas que está distante do lobby, dos grandes lucros e que é escanteado pelas lideranças políticas vigentes.
AMC: Como Lula vai vencer o desafio desse Congresso ainda mais conservador e radical, com o encolhimento da esquerda?
Bruno Tadeu: Acho que o desafio do Lula é histórico. Se a resistência de setores que insistem em defender o garimpo e o mercado de terras ainda se mostra robusto, mesmo com a derrota do Bolsonaro, o que diga o agronegócio como um todo. Falando de Região Norte, uma ponte pode ser o Pará, em que o governador Helder Barbalho [MDB], já reeleito e, portanto, sem muitas amarras, pode fazer na prática o discurso que tem adotado de uso sustentável da floresta. Esse pode ser o caminho de mudança dos rumos da dinâmica econômica na Região Norte, mas é preciso comprovar essa disposição do Barbalho e, principalmente, sua bancada eleita. O MDB paraense tem nove representantes e é uma incógnita na Câmara. Se fortalecerem a bancada amazônica como se deve, é um grande reforço pra esse movimento. A ver a consequência da habilidade política de Lula em puxar essa vertente e o enfraquecimento (ou não) da extrema direita.
Ouça o episódio “Bancada sem Norte” e conheça Afluente.
(*) Jornalista graduado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
Foto: Fluente
Edição: César Wanderley/Amazonas no Congresso