Um plano estratégico interministerial vai nortear as ações do governo federal para a recuperação da saúde da população indígena de Roraima, que enfrenta situação de emergência. O anúncio foi feito pelo secretário da Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 24. O secretário acompanha os esforços de servidores do ministério, profissionais de saúde, de voluntários da Força Nacional do SUS e de militares das Forças Armadas para minimizar a crise na região.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que faz parte das forças concentradas para agir nessa urgência, instalou, na segunda-feira, 23, uma Sala de Situação para articular ações de apoio ao Ministério da Saúde (MS) e à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) frente à emergência sanitária que afeta as populações indígenas no território Yanomami. A informação está no site da fundação.
Em notícia no portal da Sesai, comentando “informações falsas que circulam nas redes sociais dizendo que os indígenas em situação de doença e desnutrição não seriam brasileiros”, o secretário Weibe Tapeba ensinou que “os Yanomamis são povos originários do Brasil, que vivem naquela região milenarmente e estão aqui muito antes do Brasil ser o que é hoje. E a sociedade brasileira, em sua grande maioria, tem demonstrado grande empatia por essa situação”. Ele se disse empenhado em trabalhar pelo resgate da dignidade desses brasileiros Yanomami.
A Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e a Associação do Pessoal da Caixa de Roraima (Apcef/RR) iniciaram, nesta, a campanha SOS Yanomami, divulgou a revista Forum.
É estarrecedora e revoltante a situação em que se encontram os Yanomamis. Além das ações já anunciadas pelo governo federal, é fundamental que toda a sociedade se mobilize para ajudar esse povo indígena, vítima da negligência e do abandono governamental, além da ação destruidora do garimpo ilegal”, pontua Sergio Takemoto, presidente da Fenae.
O presidente da Apcef/RR, André Ferreira, lembrou do espírito solidário dos empregados da Caixa e os convidou a ajudar os yanomamis. “Quero convidar todos os associados da Apcef Roraima e das Apcefs de todo o Brasil para contribuir com essa campanha. Que possamos ajudar o povo da etnia Yanomami que está passando por uma crise sanitária e de insegurança alimentar”.
De acordo com o teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está oferecendo 180 médicos formados enquanto militantes do movimento, para ajudar o povo Yanomami.
O infectologista André Siqueira, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) integra a missão do Ministério da Saúde na região Yanomami, território indígena que reúne mais de 30,4 mil habitantes. O convite partiu do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), um dos parceiros do governo federal na ação.
Foram registrados casos de desnutrição grave na população de mais de 5 mil crianças, já acumulando 570 casos de óbito infantil. André explica que não são só as crianças. “Pessoas idosas também estão com quadro severo de desnutrição. Temos também nos deparado com quadros graves de malária, doenças diarréicas agudas e acidentes ofídicos (picada de cobras ou serpentes)”, explica o pesquisador.
Segunda-feira, Jesem Orellana, epidemiologista Fiocruz Amazônia, em entrevista aos jornalistas Fábio Pannunzio e Rafael Bruza, do canal TvDemocracia/BR, no YouTub), contou alguns pormenores da situação de calamidade sanitária e ambiental vivida pelos indígenas Yanomami, durante o que ele classificou como “omissa, criminosa e desumana gestão Bolsonaro do governo do país. Abundaram denúncias, estudos, relatórios e alertas dos órgãos de controle. O que faltou foi respeito aos povos originários e o mínimo de humanidade!”, disse o epidemiologista na entrevista, que você pode assistir clicando aqui (a entrevista começa aos 58 minutos do programa).
André Siqueira contou que o INI tem um estudo em curso sobre a malária em Roraima. “Nossa trabalho aqui é o de propor, como resposta a situação encontrada, diagnóstico e o tratamento, já que detectamos ausência de um e de outro em várias áreas da região, o que acarreta aumento dos casos da doença”.
O Ministério da Saúde, diante do quadro encontrado pelos técnicos e pesquisadores na região, publicou portaria declarando emergência de saúde pública e estabelecendo o Centro de Operações em Emergência (COE) Yanomani, sobe a responsabilidade da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), cuja função será coordenar a resposta à emergência no âmbito nacional.
As equipes técnicas estão atuando em duas áreas. Uma está concentrada em Boa Vista, trabalhando com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami, a Casa de Saúde Indígena (Casai), Secretaria Estadual de Saúde de Roraima e Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista. A outra, chamada equipe de campo, está atuando entre os Polos Base de Surucucu e Xitei – onde o pesquisador André Siqueira está. Essa região é de difícil acesso, mas com o apoio do Ministério da Defesa os pesquisadores e técnicos estão conseguindo acessar a população da área.
A missão do Ministério da Saúde iniciou suas atividades na região na segunda-feira atrasada, 16, sendo uma ação conjunta entre as secretarias do Ministério, Executiva, de Saúde Indígena (SESAI), Vigilância em Saude (SVS), Atenção Especializada (SAES); além da parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Ministério da Defesa, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de Roraima, Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), lideranças indígenas do Conselho Distrital Yanomami (CONDISI) e a Hutukara Associação.
Fonte: Fiocruz e Ministério da Saúde
Foto: Igor Evangelista/MS
Edição: César Wanderley/Amazonas no Congresso